Brilho nos olhos e um sapo de mentira

Ontem, voltando da escolinha com Matias no colo, presenciei uma cena que quero guardar no coração.

Um dos prédios do nosso caminho de volta para casa tem uma entradinha com grama falsa e algumas “estátuas” típicas de jardim: sapo, lagartas, cogumelos. Matias anda na fase do sapo: fala “apo” e pula o dia inteiro. Antes de chegar nesse prédio, perguntei ao Matias: “será que o sapo vai estar lá? Será que vamos conseguir vê-lo?”.

Ele ficou animado, ia procurando o sapo em cada prédio que passamos. Quando chegamos no prédio certo, os olhinhos dele brilharam e ele fez aquela carinha de “olha, ele tá ali”. Foi lindo de ver tanta alegria, tanta pureza, tanto deslumbramento. E ele ainda ficava fazendo sinal de “vem” para o sapo, como que convidando o bichinho de mentira para brincar.

Foi lindo. E eu queria guardar esse instante numa caixinha para, nos dias mais difíceis, lembrar o Matias que por mais complicadas que estejam as coisas, esse olhar brilhante já morou dentro dele um dia. E é só procurar direitinho que ele vai encontrá-lo novamente, sempre.

Dicionário do Matias 3

Átú: caiu

Bóia: ‘bora

Mõ: mão

Pepiu: pipiu

Bôcá: boca

Olio: olho

Bubu: bumbum

Dôdí: dedo

Hohoho: Papai Noel

Banana: banana

Mômão: limão

Pata: pato, pata

Aajiiu: azul

Duda: Duda, a coleguinha da escola

Bolhô: molhou

Uau: uau (é uma das palavras que o Chu – o panda – fala no livro).

Opá: opa (outra palavra do Chu)

 

O primeiro dia na escolinha

Matias entrou na escolinha com 8 meses e meio. Teve um bom treinamento de “ficar sem a mamãe” antes, pois ficou o mês de janeiro inteiro em casa primeiro com o vovô Cláudio e depois com a vovó Margarida. Eu voltei ao trabalho no início de janeiro.

As aulas começaram no dia 5 de fevereiro. Eu já havia etiquetado o material, organizado a bolsa (usei a bolsa de maternidade que fiz para ele), conversei muito com ele sobre a escolinha. Tudo certo. Como era uma adaptação, combinamos que ele ficaria lá de 16h às 17h apenas. Levei ele lá, me despedi (não lembro se ele chorou ao ficar) e saí. Com a sensação mais esquisita do mundo. Meu bebê seria cuidado integralmente nesse período por um estranho. Eu não ia saber absolutamente nada do que se passaria com ele naquela hora. Ele ia chorar? Ia se sentir abandonado? As pessoas iam cuidar dele com carinho? Eu estava fazendo a coisa certa? A tia ia saber como consolá-lo? Será que eu deveria ter avisado que ele gosta disso ou daquilo?

Não consegui aproveitar minha hora livre. Saí da escolinha, sentei num puff do studio de pilates que eu frequentava antes de engravidar e fiquei lá um tempo, em silêncio, meio atordoada, com vontade de chorar. Até que criei coragem de sair de pertinho do meu filho (eu estava a menos de 1 minuto da creche) e fui para casa. Lavei louça, estendi a roupa e logo estava na hora de buscá-lo. Quando cheguei lá, a dona da escolinha perguntou se eu poderia esperar porque a janta tinha acabado de chegar e eles estavam dando para ele. E ele comeu. Para mim, foi um sinal de que tudo ia ficar bem.